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A Inteligência Emocional na Criança


Se tivermos um olhar atento sobre a vida, será fácil entender que ela é repleta de estímulos e exigências que constantemente despertam as nossas emoções. É assim desde o primeiro dia em que nascemos. As emoções influenciam os pensamentos e ambos estão implicados na forma como atuamos perante as situações, nomeadamente, nas tomadas de decisão.

A infância é uma fase essencial no desenvolvimento emocional e na regulação emocional de qualquer criança (Gross e Tompson, 2007). É nesta fase também que se inicia a definição dos seus hábitos emocionais que, sem se dar conta, irão orientá-la na fase da adolescência e na sua vida adulta (Daniel Goleman, 2012).

As emoções têm, portanto, um papel essencial no equilíbrio e na saúde mental da criança de hoje e do adulto que se tornará amanhã.

Assim, quanto mais cedo a criança aprender a entender e a lidar com emoções e sentimentos, mais apta se tornará a resolver de forma emocionalmente autónoma e responsável os desafios diários. Chama-se a isso Inteligência emocional - à capacidade de identificar emoções e sentimentos, saber reconhecê-las em si e nos outros, e ser capaz de as gerir de forma equilibrada e adequada às características de cada momento.

Esta competência humana é a principal responsável pelo sucesso ou insucesso na vida de cada um; por melhores relacionamentos familiares, sociais e profissionais. E, embora não se nasça já “emocionalmente inteligente”, esta aptidão pode e deve ser desenvolvida a partir da infância.

Sabia disto?

Então, sejamos práticos. Como é que a inteligência emocional pode ser desenvolvida no dia-a-dia da criança?

A inteligência emocional é adquirida por meio da aprendizagem de competências emocionais e de experiências positivas, vividas diariamente pela criança. O seu desenvolvimento requer um treino diário no meio familiar, na sua instituição de ensino e nos outros contextos em que ela faça parte.

Nesta prática, os pais podem introduzir atividades simples e divertidas na sua rotina diária, de acordo com a idade da criança e dos interesses que ela demonstra.

Partilhamos algumas das muitas atividades de inteligência emocional:

  • Gratidão. Ensine a sua criança a ser grata pelas pessoas boas da sua vida, por tudo o que tem no aqui e no agora e pelo que já conseguiu fazer. Ajude-a a praticar este exercício de pensamento e de foco de atenção. Isso irá permitir-lhe elevar os seus níveis de bem-estar, a valorizar-se a si mesma, aos outros e às pequenas coisas que acontecem à sua volta. Pode perguntar-lhe, por exemplo, “O que gostaste mais de fazer hoje?”. Depois de ela responder, ajude-a a transformar o que aconteceu em gratidão: “Obrigada por...” Com a prática, a criança não irá apenas agradecer mas irá também sentir gratidão sincera pelo que está a dizer. Esta atividade pode ser apenas verbalizada ou pode também ser acompanhada pelo desenho e/ou pela escrita. Pode fazê-lo de dois em dois dias, ou uma vez por semana mas faça-o com regularidade e sinceridade.

  • Jogo de mímica emocional. Cada jogador escolhe uma emoção para representar apenas com o rosto e o corpo. Este é um dos jogos que permitem relacionar o nome das emoções à expressão facial e corporal. Saber reconhecer as emoções nos outros e perceber o impacto que cada uma tem no corpo humano é muito importante para desenvolver, por exemplo, a empatia e criar bons relacionamentos.

  • O ator principal. Este exercício permite que a criança aprenda e viva as emoções através da representação de uma situação real ou imaginária e, portanto, dentro um ambiente controlado. Deixe seja o ator principal na dramatização de uma situação à sua escolha, dando enfase à expressão facial, corporal e vocal. Aqui é também importante serem abordadas as possíveis alternativas para evitar o conflito representado e as diferentes formas de resolver o problema da história. Assim estará não só a trabalhar o reconhecimento das emoções em si e nos outros, como também estará a treinar o controlo emocional do seu filho, a sua autonomia emocional e as relações interpessoais.

  • Histórias com sentido. Escolha histórias que abordem temas importantes da vida da criança como, por exemplo: a chupeta, o desfralde, as birras, a partilha, resistência em ir à escola, a amizade, a gratidão, a violência, a vergonha, o medo do escuro, etc.). Ao contar a história dê destaque à nomeação das emoções referidas e às respetivas expressões faciais e vocais. Ouça com atenção o que a criança lhe vai dizendo sem fugir às perguntas que lhe possa fazer. Seja sempre sincero, podendo recorrer a exemplos pessoais. Recorde como foi consigo? Permita que a criança ouça de novo a história, caso ela lho peça, porque isso é sinal que está a trabalhar internamente algum conteúdo da história.

  • Desenhos livres. São outra forma de comunicação da criança a partir da qual se pode explorar o autoconhecimento emocional. Pode perguntar-lhe se quer fazer um desenho sobre a história que leram, sobre o dia que passou, sobre o que está a sentir, ou simplesmente sobre o que ela quiser. Desta forma, terá acesso ao que mais a marcou na história, no dia ou noutra situação, abrindo caminho para falarem sobre as suas emoções. Esta atividade poderá dar também origem a um jogo de adivinha – cada um faz um desenho e no final terá de se descobrir qual a emoção que se está a querer transmitir.

  • Expressão musical. A música é uma fonte de estimulação emocional e está presente no rádio do carro, no CD da escola, no filme visto lá em casa ou no simples cantarolar da mãe! A música pode alterar os nossos estados emocionais sem que nos demos conta disso. Ela pode desencadear estados de alegria ou tristeza, de calma ou de agitação, entre outros. Então, ajude a sua criança a ter consciência disso mesmo. Coloque uma música e no final partilhe com a criança o que essa música lhe fez sentir. Depois, pergunte-lhe se ela sentiu a mesma coisa ou uma emoção diferente. Pode fazer também o exercício ao contrário. Pedir-lhe para cantar ou inventar uma música que a faça sentir alegria, tristeza, raiva, etc. Utilize ainda a música como uma ferramenta de controlo emocional e comportamental. Ela pode ser um complemento precioso no relaxamento antes de dormir, no entretenimento de uma viagem de carro ou para ajudar toda a família a acalmar em situações de maior tensão, por exemplo.

  • Respiração consciente. É uma técnica de autocontrolo emocional. Quando respiramos bem e profundamente estamos a melhorar a oxigenação de todo o nosso corpo e a dizer ao nosso cérebro que estamos calmos. Por isso, treine regularmente a respiração com a sua criança, de forma a que se torne automática e útil nas situações de descontrole emocional. Para auxiliar esta tarefa pode utilizar, por exemplo, moinhos de papel, bolas de sabão, velas e balões.

  • 15 minutos mágicos. Muito resumidamente, são 15 minutos por dia ou por semana onde a criança tem a atenção plena da mãe, do pai ou de ambos. Aqui é a criança quem dirige a brincadeira durante todo o tempo. Tudo é permitido desde que não coloque em perigo a vida de ninguém. Os pais deverão somente seguir as suas instruções, sem ter a intenção de educar, fazer juízos de valor, ralhar ou punir. Ou seja, se a criança produz um som, os pais deverão imitar igualmente; se ela quiser um abraço, o abraço será dado pelo tempo pretendido; se ela quiser brincar no chão, ir para a terra ou subir a uma árvore, os pais deverão fazer o mesmo com ela. A criança deverá ser acompanhada nas suas iniciativas. Pode parecer disparatado mas tem resultados incríveis. Esta comunicação em espelho é muito gratificante para a criança, aproximando-a afetivamente dos seus pais e ensinando-lhe a noção de respeito mútuo, entre outros valores fundamentais na construção de relacionamentos saudáveis. São apenas 15 minutos mas terá de estar motivado para a brincadeira e inteiramente disponível para o momento.

Ao colocar em prática estas ou outras atividades de inteligência emocional, estará a trabalhar na criança as suas componentes emocionais: a autoconsciência emocional, o reconhecimento das emoções nos outros, o controlo emocional, a autonomia emocional e os relacionamentos interpessoais.

No entanto, não espere que a sua criança deixe de sentir medos, raiva, ciúme ou inveja. Ser emocionalmente saudável e inteligente é também compreender o que sentimos, aceitar essa emoção e transformá-la em algo positivo.

Saiba que nesta área somos todos agentes ativos: se a família constitui o primeiro pilar de aprendizagem emocional; os educadores, os professores e os colegas constituem o segundo; atuando de seguida os restantes agentes da sociedade. Todos temos influência na educação emocional da criança.

Boas escolhas!

Imagem I O SEU IKIGAI

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