O sono dos miúdos... e dos graúdos
Este tema é dedicado a todas as mães e a todos os pais com filhos pequenos e umas belas horas de sono para recuperar.
Dormir representa cerca de 1/3 do nosso tempo de vida; mais de 26 anos de sono.(*) Ou, pelo menos, assim deveria acontecer, não fossem outros fatores interferir como, por exemplo, os filhos pequenos!
Há uns tempos, uma mãe teve comigo o seguinte desabafo:
“(...) Esta noite foi terrível ao ponto de ter sucumbido; trouxe o Miguel (dois anos) para adormecer na nossa cama e depois voltei a levá-lo para a dele... (...) o problema é que acorda um bocadinho rabugento e se não o aconchego chora e como não quero incomodar os vizinhos, tenho mesmo de o acalmar, o que significa encostar-me a ele e abraçá-lo... claro que isto não resolve! Passado 10 minutos ele volta a acordar e a querer “companhia”... Esta noite estava tão cansada que depois de 5 vezes neste deita/levanta o trouxe para a nossa cama. (...)”
Lembro-me particularmente desta noite. Este desabafo bem que poderia ter sido meu! Em minha casa, a noite pareceu também não ter fim. Lá fora, o vento parecia uivar para dentro do quarto dos miúdos e o barulho da trovoada a certa altura compôs o cenário de agitação. E entre tanto desnorteio, cansaço e pedidos de conforto, quando acordámos de manhã éramos quatro, em vez de dois, na mesma cama! Confesso que me cheguei a comparar às sardinhas enlatadas... mas a verdade é que para os miúdos, a avaliar pelos seus rostos, tiveram um pedaço de céu.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, dormir em qualidade e na medida certa, tem importantes benefícios na renovação e na reparação do corpo e da mente.
Numa família com crianças, estes benefícios tornam-se difíceis de integrar. As noites podem ser frequentemente mal dormidas e, então, o ritmo diário de todos os elementos do lar acaba por ser afetado.
Mas porque acordam os pequenos a meio da noite?
Acordam por diversas razões ou simplesmente porque sim. Até aos 3 anos o ciclo de sono das crianças é composto por mais picos de sono leve (sono sonhador ou REM) do que de sono profundo (sono calmo ou não REM). Por isso, são vários os momentos noturnos em que a probabilidade de acordarem se torna maior, quer seja por:
Touch points. São surtos de desenvolvimento que pela sua elevada necessidade energética poderão influenciar o sono.
Pesadelos ou sonhos. Com base em toda a informação que a criança retém durante o dia, são incontroláveis e podem destabilizar o andamento de um sono tranquilo.
Desconforto. Se tem sede, fome, frio ou calor; se não encontra a chupeta, se perdeu a almofada; se tem dores, ficou com o braço dormente, com o pé preso no berço ou se caiu da cama.
Estímulos excessivos. Muita luminosidade ou ruído dentro de casa (melgas persistentes, som da TV, autoclismo, etc.) ou vindo da rua (o alarme de uma casa, a buzina de um carro, etc.)
Despertador biológico. Todas as crianças têm um. E sempre que os pais recorrem a estímulos altamente protetores (beijos, abraços, embalos, etc.) durante a noite, esse despertador é automaticamente ativado. Isso significa que a partir desse momento a criança está programada para acordar sempre a essa hora... independentemente de haver uma razão forte ou não! Soa-lhe familiar?
Selecionámos algumas propostas para melhorar as noites:
Muito importante: A criança tem de adormecer calma. Por isso, antes de pensar em deitá-la, foque-se primeiro em preencher as suas necessidades - de brincar com os pais, de alimentar a sua autoestima, de se sentir segura e, sobretudo, de se sentir plenamente amada. Dê-lhe toda a atenção e carinho de que precisa e merece. Entre ir para a cama a horas mas a chorar ou ir para a cama um pouco mais tarde mas tranquila, é preferível a segunda opção.
Estabeleça rotina diária/regras. A rotina representa segurança. Saber o que vai acontecer a seguir, ajuda a criança a sentir-se segura... e só adormece quem sente confiança para fechar os olhos. Certo? Então, estabeleça uma ordem para as coisas acontecerem e cumpra-a o mais possível (sem que fique escravo disso). Por exemplo: chegar a casa, brincar, tomar banho, vestir o pijama, jantar, xixi, lavar os dentes, beijos de boa noite, cama, rezar, história de embalar, "Boa noite”, silêncio e luz de presença.
Elimine estímulos. Este é um grande desafios para quem cuida! Antes de dormir transmita à criança confiança. Ofereça-lhe toda a sua atenção, diálogo e carinho. No entanto, à medida que a hora de dormir se for aproximando (1 hora antes, pelo menos), todos os estímulos que acelerem o ritmo da criança devem ir sendo gradualmente retirados – luz forte, sons altos, música acelerada, televisão, brincadeiras agitadas, cócegas, visitas, etc. Depois da criança adormecer, os seus chamamentos durante a noite devem ser assistidos com o mínimo de estímulos externos possíveis (contacto ocular, tato, conversa, etc.).
Permita um objeto tranquilizador. Um peluche? Uma meia do pai? Um lenço da mãe? A criança saberá escolher o objeto ideal para si própria. O importante é que a ajude a sentir segurança na noite e, portanto, que funcione como calmante.
Cama aconchegante. Certifique-se que o colchão que utiliza é realmente confortável e que a temperatura que encontra debaixo dos lençóis é a adequada. Verifique também que a cama da criança (e a sua também) está voltada para nascente, sudoeste ou oeste (sobretudo nas crianças muito ativas).
Espelhos. Retire-os do quarto. Está provado que os espelhos aumentam as ondas eletromagnéticas e a eletricidade residual, e isso prejudica o estado de tranquilidade da criança.
Equipamento eletrónico. Relógios digitais, colunas de som, computadores, TV, ... O ideal será retirá-los de vez do quarto da criança. Saiba que alteram o campo eletromagnético, criando um campo de eletricidade estática prejudicial para a saúde. No entanto, se tiver mesmo de ter algum no quarto, então tenha em conta que a distância mínima entre ele e a criança deverá ser superior a um metro e meio. Sempre que não estiver a ser utilizado, desligue-o da tomada e não apenas no botão (mesmo quando desligados no botão continuam a produzir eletricidade estática nociva).
Ruídos. Assegure um quarto silencioso. Reduza ou disfarce ao máximo os barulhos que se ouvem no quarto e que possam interferir negativamente no sono:
Porta. Feche a porta do quarto ou encoste-a o mais possível.
Cabeceira. Coloque a cabeceira da cama longe da janela do quarto ou, pelo menos, evite coloca-la exatamente debaixo dela.
Cortinados. Ou, então, janelas duplas ou persianas que não deixem passar a luz e o ruído do exterior
“Ruído branco”. Em zonas de muito barulho como, por exemplo, quartos que fiquem virados para a estrada, poderá encobrir os sons exteriores com este tipo de ruído. Na internet existem vários dispositivos que produzem continuamente este som. Ligar uma ventoinha poderá também ser uma boa solução.
Programa IKids. Exclusivo d’O SEU IKIGAI, é um plano de desenvolvimento pessoal para crianças dos 4 aos 6 anos que trabalha competências emocionais, cognitivas e sociais. Desenvolvido de acordo com as necessidades e expetativas de cada criança, a identificação dos medos e das emoções, bem como a gestão do que se sente são parte do trabalho aqui desenvolvido. Ofereça o IKids à sua criança. Dê-lhe asas para voar mais longe.
Boas escolhas e boa noite!
Imagem I O SEU IKIGAI
(*) Se considerarmos uma pessoa que durma 8 horas por noite, durante 80 anos (esperança média de vida em Portugal - INE), conseguimos contabilizar 233.600 horas de sono. Este número equivale a cerca de 26,6 anos da vida de uma pessoa, ou seja, um terço de todo o seu tempo de existência. Na verdade este tempo poderá ser um pouco maior se adicionarmos as horas que, na infância, passamos a dormir para além das 8 horas diárias aqui examinadas.